Apesar de ainda engatinharmos em prol de políticas públicas de promoção pela igualdade étnico-racial, houve uma mudança significativa com as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que incluiu a história e a cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da educação básica brasileira (ensino fundamental e médio). O objetivo dessas leis é diminuir a desigualdade social, além de minimizar a desigualdade racial dentro das instituições de ensino, considerando que as essas instituições são recintos privilegiados onde se objetiva a busca pelo conhecimento e pela evolução intelectual e comportamental. Assim, o escopo central de nossas atividades discursivas é uma tentativa não só de cumprir a legislação federal, mas de rompermos com nossos preconceitos.

Na atividade 1, trabalhamos a diferença da visão mitológica (cosmogonia) para a interpretação filosófica (cosmologia) da realidade. Vimos que existiram condições históricas e geográficas que foram determinantes para que a cultura helênica florescesse. A lembrar: o comércio marítimo, expansões militares, intercâmbio intelectual... além da unificação das moedas, calendário, alfabetos etc. Assim, a filosofia ocidental nasce da profusão cultural que emanava nas Pólis. Contudo, vimos que essa forma de conhecimento não é originário dos gregos. Seus pensadores faziam seus estudos em outros centros urbanos e herdaram de culturas ancestrais os principais sentidos para suas teorias. A questão é que, com os processos históricos de colonização, acabou-se criando uma inverdade de que a filosofia tenha nascido na Europa, em detrimento de outras culturas-povos. Hoje, se olhamos para esses mesmos povos como "atrasados", é porque fomos condicionados ao longo de nossos processos educativos a acreditar e a repetir esse mito: de que o conhecimento filosófico e científico surgiu dos europeus, como se fossem superiores aos outros povos da Terra.

O mérito dos gregos foi conseguir estruturar os diferentes saberes, das diversas culturas em uma estrutura lógica. Na tentativa de interpretar a realidade, buscavam um princípio originário que desse conta de explicar o sentido da vida para além das narrativas mitológicas das culturas-particulares. Iniciava-se, assim, a tentativa de se lançar premissas universais para o conhecimento da realidade. Uma tentativa que nasce da necessidade de se buscar maneiras mais harmoniosas de coexistência política diante da pluralidade da vida, dos povos, das culturas e de seus deuses. Todavia, a falta de crédito às contribuições não-europeias na formação do conhecimento humano é aquilo que chamamos de injustiça histórica. Injustiça essa que recai sobre o próprio pensamento, como se o conhecimento (episteme) fosse possível aos mais avançados (gregos); enquanto os outros povos teriam apenas o senso comum sobre a realidade (doxa).

Assim, considerando que todos os povos, em todos os tempos, têm os seus desafios, nós - enquanto seres pensantes - também temos que refletir sobre o nosso próprio tempo. A época que vivemos é única. Mas isso não significa que estamos livres da interpretação torpe da realidade. Daí a premente necessidade de sermos capazes de nos espantarmos, de nos revoltarmos e, também, de nos admirarmos com a vida. É na busca de nossos propósitos que conhecemos o que nos cerca e o que nos constitui. O pensamento crítico é uma forma de conhecermos o mundo a partir de nós mesmos, a começar por nossas dúvidas/questionamentos sobre as verdades absolutas que nos são apresentadas. Portanto, a criticidade é um aprofundamento para além da superfície das aparências, como se fosse as raízes de uma árvore.

Assim, continuamos em nossa radicalização (radical = raiz). Se na atividade 1, vimos que a filosofia não é filha do eurocentrismo, agora precisamos conhecer outra realidade: também as ciências se manifestam de maneira original em tantas outras culturas. Ou seja, os pré-socráticos não foram os primeiros a pensar e a fazer ciência.

Portanto, para esta atividade 2, faremos a análise sobre como outras culturas (que constituem a origem da nossa sociedade... nossas vidas e, portanto, nossa realidade) pensam a ciência. Assim, da mesma maneira da atividade 1, após a análise do material de apoio, cada grupo deverá apresentar sua resenha crítica acerca do que compreendemos como a origem da ciência.

Desta vez, cada grupo analisará um material diferente, a fim de não ficar repetitivo e termos mais diversidade em nossas apresentações. Importante vocês anotarem os pontos principais debatidos nos materiais, e apontar os conceitos centrais. Desta vez, deixarei que cada grupo escolha seu tema.

Gratidão e paz!

Suzana.